Após caso Tifanny, FIVB regulamenta presença de pessoas trans em seleções de vôlei

Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook

Tifanny Abreu sentiu que na prática existem dificuldades para a inserção nos campeonatos da FIVB

A Federação Internacional de Vôlei (FIVB), dirigida pelo brasileiro Ary Garcia, criou pela primeira vez normas para conceder a participação de mulheres trans em competições internacionais. Quase três anos após impedir a possibilidade de Tifanny chegar à seleção do Brasil e comunicar que estava produzindo estudos sobre o tema, a FIVB modificou o seu livro de normas, para na prática, complicar a vida de jogadoras como a da atleta do Sesi/Bauru.

Até Tifanny comparecer na Superliga, o vôlei praticava a recomendação do Comitê Olímpico Internacional (COI), que estabelece um limite de 10 nmol/L de testosterona no sangue, que necessita ser conservado por um ano antes da estreia e ao longo de toda carreira da atleta trans.

Cumprindo essa condição, Tiffany foi aceita na liga brasileira, porém durante o tempo em que ela fazia sucesso no Brasil, a FIVB determinou que não permitiria trans em seus torneios até que o caso fosse melhor estudado.

A atleta nunca foi procurada para realizar testes médicos e agora as novas normas não impõe qualquer padrão, como fez a World Athletics, por exemplo. As normas são subjetivas. O jogador que quiser modificar seu registro de gênero – como Tifanny, que antes atuou no masculino – e jogar campeonatos da FIVB necessita passar por uma banca, o “Comitê de Elegibilidade de Gênero”, que vai apontar se o atleta possui vantagem competitiva pela alteração de gênero.

Veja também: Racing x Flamengo: confira prováveis escalações, desfalques e arbitragem

No entanto, não existem critérios claros. O documento relaciona que a FIVB pode considerar “qualquer aspecto fisiológico (por exemplo, natureza da mudança, peso, IMC, altura, massa muscular, etc.), médico (por exemplo, natureza e época da mudança, níveis de testosterona, operação de alteração de sexo, novos desenvolvimentos científicos, medições do receptor muscular, descobertas, etc.), esportivos (por exemplo, posição e experiência participando de outro gênero, desempenho esportivo em ligas nacionais), e sejam quaisquer outras considerações enviadas pela atleta ou solicitada pelo comitê”.

Chama a atenção o quesito à “operação de alteração de sexo”, algo que demonstrava ser superado no esporte. Em 2015, a Corte Arbitral do Esporte (CAS), resolveu que era ilegal o “teste de verificação de sexo” que a World Athletics ditava a jogadores que se cogitavam serem hermafroditas. Desde este momento, é ponto pacífico que nenhum atleta é forçado a falar ou expor como é sua genitália.

A nova regulação da FIVB fala que o Comitê de Elegibilidade de Gênero tem de ser formado por um “perito legal”, um “perito médico” e um jogador nomeado pela comissão de atletas da FIVB. Também é regra que ao menos um indivíduo seja homem e um seja mulher. O livro de normas não estabelece o prazo para tomada de decisão, nem quais os métodos ´para a “perícia” – se, por exemplo, os peritos vinham ao Brasil, na situação de Tifanny. Cada equipe da seleção poderá ter somente uma jogadora trans e cada confederação nacional permanece tendo liberdade para estabelecer suas próprias normas.

Tifanny afirma que as normas são rígidas, mas diz compreender a FIVB. “Tenho impressão que eles querem dificultar, porém tirar fraudes. Muita gente acha que é apenas um ano de hormônio e já pode ir para o feminino, ou apenas ser trans e já ir. Esquece que existem regras e essas regras só vamos alcançar com um tempo de terapia ou cirurgia”, diz a jogadora.

“Não acredito que vai ter alguma mulher trans tão cedo que tenha nível igual a uma mulher cis com todas essas regras. Até porque a única em alto nível sou eu e estou abaixo de muitas atletas cis internacionais”, conclui.