Fundação Palmares exclui nomes de esportistas negros da lista de “Personalidades Negras”

Foto: REUTERS/Jason Cairnduff
Foto: REUTERS/Jason Cairnduff

“Não tiraram minha história”

Uma série de homenagens a atletas brasileiros foram realizadas ao longo da história. Uma delas, porém, cancelada na última quarta-feira (2) após uma medida da Fundação Palmares, que eliminou nomes da relação de “Personalidades Negras”.

Dos 27 nomes publicados por Sérgio Camargo, presidente da entidade, seis são pessoas com uma bela trajetória no esporte do país. Todos, sem exceção, foram cortados sob a mesma justificativa: a homenagem agora é póstuma.

Desse modo, Ádria Santos, Janeth Arcain, Joaquim Cruz, Servílio de Oliveira, Terezinha Guilhermina e Vanderlei Cordeiro de Lima foram eliminados da lista, assim como os cantores Milton Nascimento e Gilberto Gil, a ex-senadora Marina Silva (REDE), a ex-governadora Benedita da Silva (PT-RJ) e a atriz Zezé Mota, e outros.

Os atletas responderam à decisão da Fundação Palmares, empresa ligada ao Ministério da Cultura, da qual a presidência está nas mãos de Sérgio Camargo desde o começo do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido). A esportista velocista e paraolímpica Terezinha Guilhermina, por exemplo, queixou-se da decisão, mas destacou que as conquistas não podem ser apagadas.

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“Não deixo te ter feito as coisas que fiz. Com ou sem homenagem continuarei a ter a minha história, me tiraram da lista, mas não tiraram minha história. Tomara que eu volte para a lista, mas não vou poder presenciar. É desnecessário, dá para homenagear todo mundo. Caberia todo mundo”, falou Terezinha, que conquistou oito medalhas paralímpicas, com dois ouros nos 200 metros rasos, em Pequim-2008 e Londres-2012.

Com 13 medalhas paraolímpicas em sua trajetória, englobando três ouros nos 100 metros rasos, Ádria Santos também demonstrou incômodo com a situação. Na opinião dela, a medida da Fundação Palmares dificulta a busca de esportistas negras por espaço no esporte.

“Fico triste, foi uma homenagem pelo meu feito no esporte. Excluir é uma palavra tão forte. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo triste com isso. Acho que as pessoas estavam lá por mérito, como eu, por representar o país, por tudo que fiz”, declarou.

“A gente não deveria excluída, deveria ser incluída com homenagens. Fizemos tudo com dedicação, amor. É triste saber que abrimos mão de tantas coisas para colocar nosso país lá em cima. Sempre tive orgulho de usar as cores do país. É triste. A gente vem lutando para conseguir espaço e isso acontece. É complicado, é até difícil falar”, acrescentou Ádria.

Janeth, uma das figuras mais importantes do basquete nacional, também lamentou a ação da Fundação Palmares. “Tudo isso só confirma que o nosso país não consegue valorizar o que nós atletas e outras pessoas fazem pelo Brasil. É triste, mas a gente respeita”, destacou.

Em contato por telefone, Joaquim Cruz que reside nos Estados Unidos, foi pego de surpresa com a exclusão dos nomes pela Fundação. Ele também julgou anormal a medida da entidade. “Retiraram esses nomes por que nós não estamos fazendo mais nada? Não entendo. Precisa ter uma explicação melhor”, destacou o campeão olímpico nos 800 metros rasos, em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988.

Já Servílio de Oliveira, ex-boxeador que ganhou medalha de bronze nos Jogos de 1968, no México, falou achar que tal medida está relacionada à polarização do país. Vanderlei Cordeiro de Lima, prata na maratona da Olimpíada de 2004, em Atenas, foi chamado para comentar a atitude da Fundação Palmares, mas rejeitou a ligação e muito menos retornou a mensagem enviada.

Fonte: UOL Esporte