Flamengo “joga à Gabigol”, atropela o Grêmio e acorda no Campeonato Brasileiro

Gabigol, em Grêmio x Flamengo
Gabigol, em Grêmio x Flamengo — Foto: Diego Vara/Reuters

Decisivo com gol e assistências, atacante faz a diferença no time rubro-negro

Em um passado não muito distante, a expressão “jogar à Flamengo” virou definição de um futebol bonito e vencedor. A beleza se foi, o favoritismo absoluto também, mas restando seis rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro, a vitória sobre o Grêmio deixa uma lição: se não dá para encantar, é preciso competir. É preciso “jogar à Gabigol”.

Analisar a virada a jato, com 3 gols em 9 minutos, no 4 a 2 da noite de ontem (29), em Porto Alegre, vai além de questões meramente táticas ou técnicas. Passa muito pelo estado anímico de um Flamengo que se acostumou a sobrar na turma e parece perdido quando precisa fazer força para vencer no Brasileirão. E é aí que Gabriel transcende os 22 gols e 12 assistências em 37 partidas na temporada.

Quando Rogério Ceni foi tão criticado pela substituição na derrota para o Athletico-PR e justifica com deficiências defensivas do camisa 9, é preciso entender: não é apenas o que ele é capaz de fazer para a equipe. É também o que ele é capaz de fazer com a equipe, e o que se viu na Arena do Grêmio sintetiza isso.

O tão criticado Flamengo de Rogério está longe de ser uma equipe bagunçada, não é uma equipe sem repertório e muito menos pior do que os concorrentes pelo título. As tantas chances criadas e desperdiçadas mesmo em derrotas com cara de vexame como a do Ceará mostram isso. Falta, porém, jogar mais “à Gabigol”.

Gabigol na temporada 2020

  • 37 jogos (34 como titular)
  • 34 participações diretas em gol
  • 22 gols (artilheiro da equipe ao lado de Pedro)
  • 12 assistências (principal garçom da equipe)

O Flamengo do primeiro tempo contra o Grêmio parecia um time sem forças para se impor. Na partida que valia a vida no campeonato, a equipe trocava a bola no ataque, esperava o rival dar espaços. Uma postura de “deixa acontecer naturalmente”. E aconteceu o gol gaúcho.

Felipe Luís e Gerson estavam onde deviam estar, mas Alisson teve liberdade para puxar para o meio e cruzar. Gustavo Henrique e Arão também estavam onde deviam estar, mas Diego Souza infiltrou e testou com facilidade. Marcação passiva de uma equipe que tem uma dificuldade imensa para machucar, e quando dá por si já foi machucado.

Gabigol tinha sido a exceção na primeira etapa. As duas chances desperdiçadas na frente do goleiro do Grêmio poderiam custar caro, mas também geraram sinais raros de indignação neste Flamengo. Sentimento transformado em poder de decisão após o intervalo.

Com Arrascaeta pela esquerda e Bruno Henrique mais avançado, Rogério Ceni indicou o caminho que foi aberto por Gabigol. Incansável de um lado para o outro, o atacante chacoalhava os companheiros a cada tentativa de jogada, pedia a bola e iniciou seu recital com passe na medida para Everton Ribeiro empatar aos 11.

A chapada perfeita da entrada da área três minutos depois, foi fundamental para que o time rubro-negro não perdesse o pique, e a atitude somada a eficiência de Gabigol fizeram com que a equipe cabisbaixa do primeiro tempo estufasse o peito para se impor de cabeça em pé sobre o Grêmio.

Gabigol pelo Flamengo

  • 96 jogos
  • 65 gols
  • 23 assistências

Dos 11 aos 20, foram 9 minutos em que “jogar à Gabigol” fez o time também “jogar à Flamengo”. Já em vantagem no placar, Arrascaeta e Ribeiro desperdiçaram novamente até que o uruguaio aproveitou mais uma assistência de Gabriel para fazer 3 a 1.

O Flamengo que tinha 45 minutos para sobreviver no Campeonato Brasileiro precisou de apenas 20 e de Gabriel. As mudanças insistentes de Ceni ainda fizeram com que o time gaúcho crescesse. Por mais que troque peças com características parecidas, a diferença técnica gigantesca faz o time se retrair. Não são poucos os exemplos nestes 16 jogos com o técnico.

Diego Souza diminuiu, Isla fez 4 a 2, e a verdade é que aqueles 9 minutos foram suficientes. Faltando seis rodadas, o Flamengo está vivo na briga por mais um título do Campeonato Brasileiro.

Com 18 pontos em disputa e um confronto direto, a diferença é de 4 para o Inter. Seis partidas em que, antes de querer “jogar à Flamengo”, é preciso “jogar à Gabigol”.

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