
Adrian Mouaha tem 24 anos e carrega consigo uma trajetória de vida marcada pela resistência, pelos estudos e pelo sonho de decolar a sua carreira no basquete
Nos últimos anos o mundo vivencia uma de suas maiores crises humanitárias da história, pessoas de todos os cantos vivem uma sina incansável em busca de sobrevivência, amparo e qualidade de vida. Com isso, o fluxo migratório e questões sociais tem se agravado em diversos países, em decorrência de diferentes crises internas.
De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), ao final de 2018, mais de 70 milhões de pessoas foram forçadas a emigrar de seus países de origem, como resultado de perseguição, conflitos, violência ou violação dos direitos humanos.
No Brasil, por exemplo, o ACNUR indica que já são mais de 50 mil pessoas reconhecidas como refugiadas de 55 países diferentes. Em Campina Grande, na Paraíba, o camaronês Adrien Mouaha é o exemplo de alguém que busca dignidade através dos estudos e de crescimento profissional por meio do esporte. Atleta do Basquete Unifacisa, o jogador de 24 anos, faz questão de introduzir a educação e o esporte como pilares em sua formação como ser humano.
– Eu sou muito grato pela oportunidade que a Unifacisa me deu, não só no esporte, mas principalmente na educação – disse o camaronês.
Aos 6 anos de idade, Adrien Mouaha e parte da sua família foram forçados a fugir do seu país de origem e buscar refúgio nos Estados Unidos, devido à grande perseguição política a opositores do governo do Presidente Paul Biya.
Adrien morou nos Estados Unidos, ao lado da mãe e três irmãos, até os 19 anos. Lá ele teve a oportunidade de frequentar a escola, estudando na Ligth House Cristhina School, em Nashville, no estado do Tennessee. Já em contato com o basquete, Adrien foi para uma faculdade júnior, em Miami, onde estudou por cerca de um ano até receber um convite para jogar profissionalmente no Equador.
“Jogando basquete eu conheci um técnico que estava atuando no Equador, o Pepe, ele gostou do meu estilo de jogo e me fez uma proposta de jogar com ele. Infelizmente não me adaptei bem à altitude do país e passava muito mal durante os treinos e jogos, acabei tendo que deixar essa oportunidade de lado”, disse.
Foi aí que Sam Greer, seu treinador no país norte-americano, conseguiu dar a sua parcela de colaboração. O técnico conhecia André Brazolin, ex-atleta da modalidade, que comandava uma equipe da 2ª divisão do Campeonato Paulista.
Feito o intermédio, Mouaha foi para o São Paulo e, a partir daí, o seu caminho começou a ser traçado no Brasil. Na disputa do Paulistão, ele foi observado por Eduardo Schafer – antes treinador e agora manager da Unifacisa. E aí não demorou muito para que ele acertasse a sua mudança para Campina Grande, no interior da Paraíba.
– O basquete é um instrumento de luta direta contra o racismo, porque ele acaba sendo uma atividade que une todo tipo de pessoa, branco, negro, rico, pobre. É na quadra que toda e qualquer desigualdade desaparece e só resta a vontade de vencer, diz Mouaha
Unifacisa abraça causa contra o racismo
O crescimento do Basquete Unifacisa dentro das quadras nos últimos anos é louvável e digno de todos os reconhecimentos. Só que, muito além da correria das partidas, a equipe tem sido notada por sua luta no combate ao racismo. Com vários jogadores negros inseridos no plantel, o time paraibano se mostra ativo na batalha por igualdade social e, sobretudo, para fazer com que os seus atletas se sintam representados vestindo a camisa que defendem nas competições. Na manhã da última sexta-feira, por exemplo, uma rede social do clube fez uma publicação oficial em alusão ao Dia da Consciência Negra.
Um dos bons exemplos da equipe de Campina Grande, nesta causa, aconteceu no lançamento dos uniformes oficiais para a atual temporada, em outubro. Foram três peças divulgadas na apresentação. Uma das vestimentas que a Unifacisa separou para entrar em ação no NBB deste ano faz alusão à campanha “Vidas negras importam”, que chegou como novidade para complementar os já tradicionais padrões em branco e azul e segue a cartilha de muitas agremiações de diversas modalidades na luta contra o racismo no país.